domingo, 12 de dezembro de 2010

07 de dezembro


Agência Brasil

Cidade de Deus ganhará banco comunitário no ano que vem

Isabela Vieira

Não precisa ser comerciante para saber que o crédito barato permite investimentos na produção, mais empregos e mais riqueza. É o que pensa a líder comunitária Ana Lúcia Pereira Serafim, administradora de um projeto que prevê a criação do primeiro banco comunitário da cidade do Rio, na Cidade de Deus, zona oeste.

Na comunidade de 65 mil habitantes, a ideia é incentivar a produção de pequenas associações, cooperativas e o consumo. "Lá tem muito comércio. É muita gente. Tem lan house, cabeleireiro, barraquinha de cachorro-quente e pessoal que faz reciclagem, por exemplo. São pessoas que precisam de uma força, de capital de giro para melhorar seus negócios", diz Ana Lúcia.

Para criação do banco, ainda sem nome, uma pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) vai identificar todas as atividades comerciais e os serviços oferecidos na comunidade, além da renda dos trabalhadores. O objetivo é estimar o fluxo de dinheiro que gira na Cidade de Deus. A pesquisa contratará moradores da comunidade.

O banco da Cidade de Deus foi inspirado no Instituto Palmas, o banco comunitário do Conjunto Palmeira, na periferia de Fortaleza (CE). Será instalado na Cidade de Deus porque conta com comerciantes e associações comunitárias que já formam uma rede de economia solidária, mesmo sem saber. Frequentemente, até organizam trocas e vendas em feiras na própria comunidade.

"Os bancos que existem não nos dão muito apoio. As pessoas acabam muito endividadas. Com os juros que eles aplicam, não vale a pena. Com esse banco, um negócio que a gente ainda precisa entender direito, conseguiremos oferecer empréstimos pequenos. A dona Maria da padaria vai conseguir pagar", acrescentou a líder comunitária.

Assim como a instituição modelo, o banco carioca terá uma moeda própria, com mesma paridade do real, mas de circulação restrita à comunidade. A principal vantagem disso, de acordo com o secretário de Desenvolvimento Econômico Solidário, que articula a criação do banco com a comunidade, Marcelo Henrique da Costa, é fazer com que as pessoas comprem na comunidade.

"O açougueiro da Cidade de Deus pode oferecer 1 quilo de carne por R$ 10 e 8 na moeda local", exemplificou o secretário. "Isso faz com que as pessoas comprem na comunidade. Por isso, levantaremos a cadeia de consumo, na tentativa de ofertar a mais serviços e produtos aos moradores."

Com apoio de instituições públicas, o banco comunitário abrirá em meados de 2011. Até lá, os comerciantes devem receber treinamento em economia solidária para planejar melhor seus negócios. "Esse é um sistema autogestionado, que não tem patrão, no qual o lucro é compartilhado e a produção é limpa", diz a coordenadora do curso da prefeitura, Adriana Bezerra.

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