quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Philips fecha fábrica e demite 500 funcionários no Recife
Empresa holandesa transfere produção para China e Europa; para funcionários, fechamento é "fim de um sonho", às vésperas do Natal

José alves da Rocha, nasceu e mora perto da fábrica de lâmpadas automotivas da Philips, no bairro de Curado, no Recife (PE). Ele diz que, desde menino, via a unidade crescer e tinha como sonho trabalhar lá. Quando conquistou o emprego, em 1985, planejou só deixá-lo com a aposentadoria.

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O plano, no entanto, foi interrompido pela realidade. Na sexta-feira, dia 10, a fábrica da Philips em Recife fechará suas portas, encerrando 43 anos de atividade na região. Os 500 funcionários da empresa _350 efetivos e 150 terceirizados_ sofreram um baque. “Falava-se em um corte de pessoal, mas não imaginávamos que iam fechar a fábrica. Muita gente chorou depois da reunião”, diz Rocha, que trabalha como mecânico de produção na Philips.

O anúncio do fechamento da fábrica foi feito em meados de novembro em reunião com a diretoria e o corpo de funcionários. Segundo a empresa, a decisão de suspender a fabricação de lâmpadas automotivas no País foi consequência da crise econômica global. Os produtos passarão a ser importados de outras fábricas da multinacional na Europa e Ásia.

Em nota, a Philips destaca que “há uma negociação sendo realizada junto ao sindicato e que está tomando todas as medidas possíveis para garantir o direito dos empregados”.

Para Rocha, a notícia representou “o fim de um sonho”. “A Philips era símbolo de estabilidade, por isso a demissão foi um baque”, explica.

Pai de oito filhos e com a mulher grávida do nono, Rocha afirma não estar satisfeito com o acordo fechado com a empresa, que além da indenização garantiu uma compensação financeira pelos anos trabalhados. “Vieram com a corda no pescoço. Não nos deram opção", afirma. "Evito conversar com meus filhos sobre o assunto e choro à noite de preocupação.”

O presidente do Sindmetal-PE (Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Pernambuco), Alberto Alves dos Santos, afirma que uma das prioridades estabelecidas nas conversas entre a Philips e a entidade é a realocação dos funcionários.

Para tornar o processo mais rápido, a empresa se comprometeu em bancar cursos de formação e requalificação profissional para a maioria dos trabalhadores no Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial).

“A empresa está colaborando com os nossos pedidos e o que me deixa mais feliz é que seis empresas da categoria já vieram em busca dos currículos destes trabalhadores. Estamos batalhando também para que os terceirizados recebam benefícios”, diz Santos.

Segundo ele, a Philips tem mostrado empenho para colaborar com a aposentaria dos funcionários que estavam para receber o benefício em até 20 meses. “Para quem faltava até 16 meses, eles vão pagar os salários integralmente.”

Política global

O Governo de Pernambuco declarou, em nota, que vinha sendo alertado há meses sobre o fechamento da unidade da Phillips no Recife, sobretudo após o fechamento em julho da fábrica de lâmpadas incandescentes que era mantida pelo grupo em São Paulo.

“Em diversas ocasiões foram mantidos entendimentos com dirigentes do grupo e oferecidas todas as condições disponíveis para evitar o fechamento da fábrica”, diz a nota.

O presidente da AD Diper (Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco), Jenner Guimarães, afirma que não havia nada que Pernambuco ou qualquer outro Estado pudesse oferecer para que tornasse as operações da fábrica mais rentáveis.

“As lâmpadas, na China, fazem parte de um kit. Como os custos de produção e a mão-de-obra são mais baratos, não fazia mais sentido fabricá-las aqui”, diz.

De acordo com Guimarães, a expectativa é que metade dos trabalhadores demitidos da Philips consiga um novo emprego até o fim de janeiro nas fábricas da região e em municípios próximos.

Ele afirma ainda que alguns deles estão recebendo orientação do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) com o objetivo de utilizar a indenização e a compensação oferecida pela Philips para abrir um negócio próprio.

Mesmo com perspectivas não tão negativas, o mecânico de produção Alberes José de Andrade, 49 anos, afirma que este é um dos piores momentos de sua vida. Na Philips há 27 anos, ele se preocupa com a perda do plano de saúde e aponta a dificuldade de alguém com a idade dele conseguir um novo emprego competindo entre mais jovens.

“Tenho de trabalhar", diz. "Em fevereiro vou fazer um curso para ser soldador. Isso pode aumentar as minhas possibilidades.”

Andrade afirma ainda que a fase do ano para fechamento da fábrica não foi das mais favoráveis. “Em fim de ano todos ficam mais pra baixo, mas minha família tem me ajudado muito.” Ele é casado e tem dois filhos, de 21 e 20 anos.

Já para Mailton Monteiro, 28 anos, a decepção foi tão grande que ele pensa em mudar de ramo. Trabalhando há oito anos como mecânico de produção na Philips, ele pensa em investir no que antes era apenas um hobby.

“Já fui jogador dos juniores do Sport Club Recife e agora ensino na escolinha de futebol do Curado, que atende a cerca de 150 alunos. Vou tentar ser treinador profissional”, afirma Monteiro.

Como a nova carreira escolhida não é das mais fáceis, ele conta também com um plano B e em fevereiro começa um curso de eletricidade oferecido pela Philips. “Tive uma decepção muito grande na empresa. Infelizmente não dá pra competir com a China, por isso quero focar na área esportiva”, afirma Monteiro, que é casado e tem uma filha de seis anos.

08/12/2010, Renata Baptista, especial para o iG, do Recife.

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