BB nega reivindicações sobre emprego e saúde; bancários devem se mobilizar
A participação de todo o funcionalismo, sem exceção, sobretudo dos comissionados, nas atividades organizadas pelos sindicatos será decisiva para o êxito da Campanha Nacional 2011. O Comando Nacional dos Bancários, sob coordenação da Contraf-CUT, assessorado pela Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil (CEBB), chegou a essa conclusão logo depois do encerramento da primeira rodada de negociação específica com o BB, realizada nesta sexta-feira (9) no edifício Sede III, em Brasília. Na reunião, o BB rejeitou reivindicações importantes sobre jornada de trabalho e emprego, saúde, condições de trabalho e previdência.
Os primeiro itens debatidos foram emprego, terceirização de serviços e ampliação dos correspondentes bancários em todo o país pelo BB. Coordenador da CEBB e diretor do Sindicato dos Bancários de Brasília, Eduardo Araújo lembrou que o banco praticamente dobrou sua rede de correspondentes. Além disso, de acordo com Araújo, os administradores do CSOs anunciaram há poucos dias a terceirização do monitoramento dos TAAs.
"É um grande problema para nossa categoria", afirmou, citando reportagem exibida pelo Fantástico, da TV Globo, que mostrou a venda de cadastros de clientes de bancos por funcionários terceirizados das instituições financeiras que trabalham nas áreas de informática.
Araújo explicou aos negociadores do BB que os bancários não são contra os trabalhadores de correspondentes. "Somos contrários à precarização do trabalho bancário e ao atendimento aos clientes e usuários", frisou, ao reforçar a reivindicação dos bancários: fim da terceirização casada com a contratação de 5 mil funcionários, especialmente o aumento das dotações de caixas e a efetivação dos "substitutos contínuos".
Em resposta, José Roberto, um dos negociadores do banco, ressaltou que o BB convocou, treinou e empossou nos últimos anos aproximadamente 15 mil funcionários. "Grande parte desse pessoal foi chamado para o projeto BB 2.0, que está sendo avaliado. Por isso, não será simples chegar para o governo e pedir mais 5 mil bancários.
Ao insistir na reivindicação, a CEBB afirmou que o deputado federal Ricardo Berzoini (PT-SP), autor de projeto que limita as funções dos correspondentes bancários, foi procurado pelo Banco Central logo depois da lavagem simbólica da rampa principal do BC, em Brasília, em protesto contra as diversas resoluções da autoridade monetária que vem prejudicando a categoria bancária. O protesto, organizado pelo Sindicato dos Bancários de Brasília, no dia 16 de agosto, com a participação da Contraf-CUT e dos sindicatos, reuniu mais de 700 bancários de todo o país.
Apesar de o negociador do banco ter dado a entender que o BB pode abrir novo concurso, José Roberto disse que não há precisão de contratar mais bancários este ano. "Podemos chegar à conclusão de que precisamos contratar mais, mas isso não será negociado na campanha deste ano", observou.
BB 2.0
Em relação ao BB 2.0, Araújo frisou que a crítica do movimento sindical mais contundente é sobre a segmentação. "O BB 2.0, que prioriza os clientes com renda superior a R$ 4 mil, tira o cidadão das agências e os encaminha para os correspondentes bancários, excluindo os clientes de baixa renda da rede bancária oficial".
Logo depois do debate sobre os correspondentes, os representantes do funcionalismo cobraram que todos os aplicativos de trabalho no BB devem ser vinculados ao ponto eletrônico. O BB aceitou discutir a questão e prometeu levar adiante o debate.
"Veremos o que é possível fazer, uma vez que é difícil unificar todos os aplicativos ao ponto eletrônico. É um debate que interessa ao banco. Vamos analisar todas as possibilidades. É do interesse do banco coibir a fraude no ponto eletrônico", ressaltou José Néri, um dos negociadores do banco.
Ciente das dificuldades em relação aos aplicativos, Araújo destacou a importância de avançar no assunto. "É um passo muito importante que podemos avançar".
Jornada de 6 horas
A jornada legal de 6 horas sem redução de salário - outra importante reivindicação aprovada durante o 22º Congresso Nacional dos Funcionários do BB, realizado nos dias 9 e 10 de julho, em São Paulo - também foi cobrada na primeira rodada de negociação com o banco.
Em mais uma negativa, os representantes do BB afirmaram que o banco não vai debater o tema durante a Campanha Nacional. "Como é um assunto de gestão do banco, não vamos tratar disso na campanha deste ano", afirmou um dos negociadores. Mesmo com o 'não' inicial, o banco garantiu que está concluindo estudo sobre a redução da jornada.
"Estamos em processo de finalização de estudo. No entanto, já podemos adiantar que nem todas as comissões precisam ser 6 horas. Aguardamos parecer externo e, em breve, teremos uma definição. "Mas não vamos clausular isso em campanha", acrescentou.
Araújo repassou toda a expectativa do funcionalismo em relação à redução da jornada de seis horas sem redução de salário e afirmou que os bancários pretendem avançar na questão, aprovada tanto no 22º Congresso Nacional dos Funcionários do BB quanto na 13ª Conferência Nacional dos Bancários.
"Diante dessa negativa do banco, já passou da hora de todo o funcionalismo acordar e aderir à Campanha Nacional para tentarmos avançar nesses assuntos tão importantes para todos nós. O banco só vai entender nosso recado quando nos mexermos, sobretudo os comissionados", avisou Araújo.
Descomissionamentos
Outro item que mereceu destaque na negociação, que durou quase cinco horas, foi os descomissionamentos por 'conduto incompatível'. A CEBB quer que o banco coíba a prática. A justificativa do BB para a manutenção da orientação é de que a conduta incompatível deve ser punida.
"Sabemos que é difícil, mas o banco tem procurado dar objetividade aos descomissionamentos. Muitas vezes há confusão, mas estamos fazendo debate interno para aperfeiçoar isso", ponderou José Roberto.
O representante do BB adiantou dados de estudo sobre os descomissionamentos. Num universo de aproximadamente 60 mil comissionados, de acordo com ele, o número de funcionários descomissionados é muito pequeno. "O estudo ainda não foi encerrado, mas posso garantir para vocês que é muito baixo. Queremos discutir em cima de dados concretos. Mas o BB não abre mão de fazer a gestão. Nem todo descomissionamento é injusto".
Em nome da CEBB, Araújo aceitou fazer debate interno sobre as competências e pediu mais transparência e objetividade nos descomissionamentos por conduta incompatível, algo ainda muito subjetivo, atualmente vinculado ao código de ética e conduta. "Estamos preocupados com o fato de alguns descomissionamentos possam gerar consequências negativas. Quanto mais claro, fica mais fácil de evitar a perda. E poderemos dialogar melhor", rebateu Araújo.
15 minutos de intervalo
A integração de 15 minutos de intervalo na jornada também foi prontamente negada pelo banco. Segundo integrante da assessoria jurídica do banco, o assunto confronta com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), na medida em que seriam 15 minutos a menos na jornada de trabalho. José Roberto completou o assessor e afirmou que o BB não se dispõe a discutir essa reivindicação.
Citando decisões desfavoráveis aos trabalhadores dos tribunais sobre o tema, Araújo frisou que a jornada é extenuante até para quem faz 6 horas, especialmente no atendimento ao público e nas funções de caixa e centrais de atendimento. Por isso, segundo ele, a pausa de 15 minutos é muito importante, além dos intervalos de descanso de 10 minutos para os caixas.
"É razoável conseguir o retorno dos 15 minutos para dentro da jornada. O descanso, que já é praticado em outras instituições financeiras, como a Caixa Econômica Federal e já foi praticado no BB antes da implantação do ponto eletrônico, preserva a saúde dos trabalhadores, que não podem ser descartáveis, como ocorre na iniciativa privada", explicou Araújo.
Ao tentar explicar a negativa do banco, José Roberto afirmou que a proposta precisa ser avaliada em pacote. "A média de ausências no BB é de 45 dias por funcionário, incluindo as férias", informou, frisando que o dado não é uma resposta para a reivindicação dos 15 minutos.
"O banco precisa dar mais qualidade de vida para seu funcionário ficar mais tempo na ativa. Quanto menos você desgasta o trabalhador, mais você proporciona qualidade de vida. A relação que o banco deve ter com os bancários é de longo prazo (aposentadoria), e não para descartá-los em três anos", criticou Araújo.
CABB
Pauta do 22º Congresso Nacional dos Funcionários do BB, a integração de 20 minutos de descanso na jornada dos bancários que trabalham no CABB também foi negada pelo banco. Sobre os rumores de enxugamento do setor, José Roberto negou a informação. "Queremos mudar a estrutura do CABB, e não enxugá-la. Também queremos discutir a trava".
Folgas
No que se refere à concessão de uma folga para provas de certificação, o BB negou o pedido justificando que o processo de ascensão é legítimo, embora seja um processo pessoal.
Em sua argumentação, Araújo reforçou a reivindicação dos trabalhadores, solicitando a inclusão do custeio dos cursos de CPA 10 e CPA 20 na verba de aprimoramento.
O negociador do BB aceitou discutir o assunto e prometeu aprofundar o tema no bojo da Campanha Nacional. "Podemos dar uma resposta até o fechamento da mobilização", disse José Roberto.
Já sobre a garantia de estudo para certificações dentro do horário de expediente, o banco rejeitou a proposta dos trabalhadores.
Horas extras
No que tange às horas extras com pagamento de 125% da hora normal e ao fim da compensação de banco de horas do SISBB, os representantes do BB também disseram não concordar com as reivindicações. "Não queremos acabar com a compensação do banco de horas. Grande parcela do funcionalismo opta pela compensação", tentou justificar o negociador.
Assédio moral
Também cobrado na negociação, o combate ao assédio moral e às metas abusivas mereceu pouca atenção do BB. Na visão do banco, os instrumentos (comitês de ética) estão dados e não vai fazer essa discussão na campanha deste ano.
Araújo aproveitou a oportunidade para apresentar aos negociadores a Declaração sobre a Venda Responsável de Produtos Financeiros, aprovada pelo Comitê Diretivo da UNI Finanças, em junho de 2010, durante reunião realizada em Copenhague, na Dinamarca.
O documento, traduzido pela Contraf-CUT e pela UNI Global, discute a Venda Responsaval de Produtos. O texto é uma declaração da Uni Finanças para garantir maior responsabilidade com a venda dos produtos. "As instituições financeiras precisam coibir, por exemplo, a venda casada de produtos. Ilegal, a prática é incentivada para fazer com que os bancários consigam bater as metas", destacou Araújo.
Em relação aos comitês de ética, a CEE cobrou ampliação das eleições de representantes. "Para os comitês de ética avançarem, é preciso eleger seus integrantes e ampliar as suas tarefas", reivindicou Araújo.
Cassi e Previ
Sobre a reivindicação de garantir a todos os funcionários de bancos incorporados o direito de se associar à Cassi, os representantes do BB disseram que não irão negociar o tema na campanha deste ano. "Cassi para todos não existe. Quem já se aposentou por um banco incorporado pelo BB não pode ter Cassi", disse José Roberto.
Em relação aos planos de saúde dos funcionários incorporados pelo BB, o banco afirmou que está prestes a assinar acordo de reciprocidade com o Fusesc (Besc), garantido atendimento da rede credenciada da Cassi fora de Santa Catarina, a exemplo do texto assinado com os bancários da Nossa Caixa.
Representante da Federação dos Trabalhadores em Empresas de Crédito do Centro Norte (Fetec-CN), Rafael Zanon pediu solução para o plano de saúde dos funcionários do BEP, instituição financeira adquirida pela BB.
Depois de um impasse na mesa de negociação, onde os representantes do banco se negaram a discutir o assunto na mesa específica, ficou acordado a realização de reuniões para aprofundar os temas saúde e previdência e procurar soluções para os bancários. "Insistimos nos temas porque achamos que os funcionários dos bancos incorporados merecem o mesmo tratamento. Para os trabalhadores, o assunto tem muita urgência", frisou Araújo.
Plano odontológico
Diante das inúmeras reclamações contra o plano odontológico, o Comando Nacional dos Bancários e a CEE cobraram a ampliação do nível do plano e também da rede conveniada em todo o país.
Em resposta, José Roberto informou que o BB tem cobrado da Diretoria de Seguridade a expansão da rede no interior.
Questionado sobre a extensão do plano odontológico aos aposentados, o banco afirmou que ainda não tem posição sobre o assunto.
Sesmt
Mais uma vez, os dirigentes sindicais cobraram a implantação do Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho (Sesmt). "É um assunto vital para os bancários, e que o banco precisa dar agilidade", salientou Araújo.
O negociador afirmou que todos os funcionários aprovados na seleção interna já foram nomeados. A maioria, segundo José Roberto, nas áreas de segurança e engenharia. "Faltam médicos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem, vagas que serão preenchidas com a realização de concurso externo ainda neste ano".
Garantia da comissão
A garantia da comissão após o retorno da licença-saúde foi outro item negado pelo banco. "Acho muito difícil resolver essa reivindicação", afirmou um dos negociadores.
Araújo insistiu na reivindicação e cobrou o debate do assunto junto com as questões relacionadas ao Plano de Cargos Comissionados/Substituições e lembrou que no início de 2011já havia apresentado a reivindicação da ampliação do VCP aos funcionários afastados por acidente de trabalho, licença-trabalho e licença-saúde. Os bancários que se encontram nessas situações têm direito a apenas quatro meses de VCP.
Fim da trava
A negativa do BB também para o fim da trava de dois anos fez o Comando Nacional dos Bancários e a CEE pedirem alternativas para o assunto. "Essa trava de 24 meses é muito longa e engessa a transferência de funcionários, muitas vezes importantes para o bom funcionamento dos setores", argumentou Araújo. "É importante que o banco perceba também a qualificação dos trabalhadores que estão disponíveis. Com a trava de dois anos, esses profissionais ficam desmotivados", completou.
O negociador garantiu que o assunto está sendo analisado pelo banco. "O BB ainda não tem estudo sobre o retorno da trava de dois anos. Acreditamos que podemos avançar. No entanto, não haverá o fim da trava para transferência", afirmou Roberto.
Portas giratórias
Após constatar que algumas agências do BB funcionam sem portas giratórias, os representantes pediram que o banco providencie o item de segurança o mais rápido possível. O banco, por sua vez, garantiu que vai atender a reivindicação o mais breve possível. "Somos contra a retirada das portas. Nas agências onde o item foi retirado, aumentou o estresse dos vigilantes", acrescentou Araújo.
Transferências
O fim das transferências unilaterais em Santa Catarina, conforme denuncia da CEE, também foi negado com veemência pelos negociadores. "Não aceitamos discutir isso".
Mobilização pode reverter postura do banco
As negativas do BB para as reivindicações do funcionalismo mostram que a Campanha Nacional 2011 será extremamente difícil. "Os bancários precisam se mexer, caso queiram novas conquistas", afirmou Araújo. "Usamos todos os argumentos possíveis e insistimos nas reivindicações aprovadas durante os congressos. Agora, é a vez de os bancários se engajarem e entrarem de corpo e alma nas mobilizações organizadas pelos sindicatos. A luta não é só dos sindicatos, é de todos, escriturários, caixas, comissionados e gerentes", convocou Eduardo Araújo.
Próximas negociações
A segunda rodada de negociação será na próxima quarta-feira (14), às 10h, em Brasília, e vai discutir os demais itens da pauta específica. A terceira rodada de negociação, onde o banco provavelmente trará respostas efetivas, será dia 20 de setembro (terça-feira), em São Paulo, por volta das 16h.
Fonte: Contraf-CUT com Seeb Brasília
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